Morreu Francisco Sampaio, “o minhoto de alma cheia”
Francisco Sampaio, conhecido como o “senhor Turismo” do Alto Minho, morreu esta sexta-feira aos 84 anos. O professor e etnógrafo estava retirado da vida pública há anos devido a problemas de saúde. Nos últimos meses, Francisco Sampaio tinha sido homenageado várias vezes e uma das últimas homenagens que recebeu foi a atribuição do seu nome ao centro de congressos do Castelo de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, numa cerimónia emotiva ao “minhoto de alma cheia” conhecido como “senhor Turismo” pela herança cultural que deixou para o Alto Minho e para o turismo português.
Nesta cerimónia foi recordada alguma da história vida de Francisco Sampaio, lembrando, por exemplo, que o seu pai esteve no Castelo de Santiago da Barra como sargento-ajudante do Regimento de Artilharia nº5. Foi recordado o seu passado como docente, fundador da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do IPVC e coordenador do curso de turismo. Após ter sido presidente da Junta de Turismo de Vila Praia de Âncora, Sampaio anteviu a importância do Alto Minho como destino turístico, tendo participado no processo de constituição da Região de Turismo do Alto Minho que presidiu de 1980 a 2009. A este legado, juntou ainda a liderança da Confraria dos Gastrónomos do Minho, entre 1984 e 2012, tendo sido o responsável pela organização de uma quinzena de congressos de gastronomia e publicado vários livros sobre gastronomia e vinhos.
Sampaio juntou ainda ao seu curriculum a organização da Romaria da Senhora d’Agonia, durante 40 anos, tendo também desenvolvido trabalho idêntico nas Festas da Senhora da Bonança, em Vila Praia de Âncora. Francisco Sampaio foi condecorado com a medalha de mérito turístico, grau prata e grau ouro, pela Secretaria de Estado do Turismo, em 1996 e 2005, medalha de ouro de mérito turístico pelo Comércio de Pontevedra, em 2000, medalha de honra, grau prata, pela Junta da Galiza, em 2003, é cidadão de mérito de Viana do Castelo, distinção atribuída pela Câmara de Viana, em 2004, e recebeu a medalha da Academia Portuguesa de Gastronomia em 2007.
Em junho de 2019, o Município de Viana do Castelo atribuiu o nome de Francisco Sampaio à galeria do piso 0 do Museu do Traje. A homenagem do Município aconteceu porque, de acordo com autarca de então, José Maria Costa, “o Museu do Traje tem muito da mão dele”.
Na altura, o presidente da Câmara considerou mesmo que Francisco Sampaio, juntamente com Amadeu Costa e Francisco Cruz, ambos já falecidos, formava “um trio fabuloso na organização das festas”.
Francisco Sampaio exerceu, entre outras funções, a de Técnico Superior do Centro de Saúde Mental de Viana do Castelo, Professor do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), Presidente da Comissão Regional de Turismo do Alto-Minho, desde 1980 até se reformar.
É autor de dezenas de títulos, que versaram sobre temas de caráter histórico, arqueológico, turístico, etnográfico e gastronómico, tendo sido também colaborador de várias publicações do Alto Minho. Redigiu o estudo que serviu de base à Declaração de Interesse para o Turismo da Romaria d’Agonia, que foi aprovada em 2013.
Na homenagem no Castelo de Santiago da Barra, a filha Anabela admitiu que o pai sofria da “doença do esquecimento”, simbolicamente imaginada num “dente de leão”, planta formada por vários filamentos que, em contacto com o vento, soltam-se e vão voando. “Assim são as memórias que também se vão soltando aos poucos num processo contínuo e lamentavelmente irreversível. Mas ele encontra-se bem, tranquilo, rodeado de cuidados, do amor e carinho da família e amigos”, assegurou.